domingo, dezembro 31, 2006

Decifra-me ou te devoro

Hold me close and tell me how you feel
Tell me love is real
Words of love you whisper soft and true
Darling I love you
Let me hear you say
the words I long to gear
Darling when you're near
Words of love you whisper soft and true
Darling I love you

Words of love - The Beatles

segunda-feira, dezembro 25, 2006

Recordações

Quando eu era bem pequena, a árvore de Natal da minha casa era daquelas que tinha as folhas (se é que se pode chamar aquilo de folhas) de plástico vermelho. Lembro que dormia cedo e no dia seguinte, ao acordar, encontrava um presente me esperando embaixo dela. Tinha um embrulho legal, colorido. Minha mãe ficava ao meu lado me vendo desembrulhar o presente.
Tempos depois, um pouco maior, a árvore mudou e eu passava o dia cochilando e esperando a noite chegar. Meu pai ainda passava o Natal aqui. Minha mãe preparava as comidinhas, eu tomava banho e descia pra casa da minha vizinha que a família era grande. Era uma matriarca com suas três filhas e um filho. Uma das moças tinha um casal de filhos, mais ou menos da minha idade, que cresceram comigo. Dizemos que somos irmãos de consideração. É uma amizade de uns quinze anos. Nesta casa era uma festa. Colocavam músicas de sucesso da época e dançávamos muito. Na casa do lado também tinham duas meninas que ficavam na casa dos avós e brincavam com a gente. Então, no dia 24 pro 25, passávamos o Natal juntos. Até que meia noite, alguém se vestia de Papai Noel, sentava numa cadeira no meio da sala e chamava cada criança, entregando os presentes. Acreditava cegamente na figura deste senhor. Como de costume, quando me chamavam, ia envergonhava, dava um beijo no “velhinho”, saia logo e abria o presente. Minha mãe me fitava com um olhar brilhante e um sorriso meigo.
Ainda menina, só um pouco mais velha, continuei a freqüentar as noites de Natal na casa da vizinha. O ritual do dia era o mesmo, com uma ansiedade maior. Descia, dançava, mas tentava manipular as crianças a desmascarar o Papai Noel! Inventava emboscadas pra arrancar a barba dele ou tentava prestar atenção nos pais que estavam sumidos. Porém, no momento em que era chamada pra receber o meu presente, esquecia disto tudo e entrava na fantasia da imagem do bom velhinho. Olhava pro lado e lá estava minha mãe com olhar e sorriso doces.
Teve um presente inesquecível: um rádio com cd. Foi o primeiro da minha casa. Ganhei junto o álbum da Sandy e Junior que vinha aquela música “foi bom sonhaaaar com vocêêê”. Meus pais, meu irmão e vizinhos sofriam comigo cantando e dançando. E meu irmão por perto querendo o meu som pra ouvir Legião Urbana. Comecei a ouvir esta banda neste período. Foi a época que surgia o Mamonas Assassinas também.
Anos depois a árvore se modificou mais ainda. Tornou-se mais sofisticada e crescia sempre um pouquinho. Comecei a ajudar a fazer as comidas (vegetarianas!), principalmente os doces.
Agora, não vou mais pra casa da vizinha de família grande. Sento cansada, depois de um dia trabalhoso, com minha mãe, meu irmão, minha cunhada e os gatinhos. Conversamos, lavamos alguma roupa suja, comemos e trocamos os presentes. Minha mãe continua a nos olhar cheia de carinho...
Minha casa sempre foi simples. E em todos estes muitos anos percebo os cuidados de mantê-la limpinha e gostosa; as comidinhas deliciosas; os presentes muitas vezes irrealizáveis realizáveis...
Toda esta simplicidade e detalhes fizeram não só do meu Natal, como outras datas especiais e dias e mais dias, uma felicidade plena, sincera e inesquecível. Impossível não acreditar que a família seja a base de tudo. Não quero saber se esta é a família inventada nos moldes burgueses e o que há por trás disto. É a minha família, é o que me faz feliz, é o que me fortalece e me abriga. E é a minha mãe a centralizadora de tudo isto, meu porto seguro, o meu amor mais que perfeito e possível, com o olhar mais lindo e delicado do mundo!

Trilha sonora: Legião Urbana – cd: O descobrimento do Brasil
(Obrigada, moço, pelo momento ótimo de recordações!)

quinta-feira, dezembro 21, 2006

Imperfeição

Desisti de dormir até mais tarde.
Não almocei.
Hoje não quis sair de casa.
Evitei pensar no ontem e no amanhã.
Sentei naquela cadeirinha e fiquei.

Só quis ver o azul do céu e o quente do sol.
Ouvir aquela canção.
E sentir o cheiro da chuva que vem.

A gente fala de combinar.
Combinar o quê?
Combinar felicidade, combinar desejo.
Mas desejo combina?
O desejo de qual ponto de vista?

Pego o barco, saio por aí.
Procuro o enfim
só tem fim.

A chuva caiu. O mar se agitou.
Corro pra janela...
Apenas olho,
somento sinto.
Sinto muito.
Sinto ter sido.
Sinto esperar.

Continua pingando,
continua respingar ressentimento das consequências.

Ainda bem que não sai de casa.
Lá fora é agitado.
Lá fora te engolem.
Aqui também está um reboliço.
A chuva tá forte
só que tá parando.
Será que estamos parando também?

"Não se pergunte mais porque me disse não
Se eu não procuro agora
o que encontramos antes
É só porque a noite chora lágrimas de diamantes"