Incerto, incompleto, inconstante
Instável, variável, defectivo
Eis aqui um vivo
Eis aqui
(...)
Não feito, não perfeito, não completo,
Não satisfeito nunca, não contente,
Não acabado, não definitivo:
Eis aqui um vivo
Eis me aqui"
Um vivo que vive a despertar aversão. O amor já não lhe quer, amizade é passageira, os carinhos apodrecidos .
Vivo? Morto-vivo. Parasita de sentimentos alheios que nunca serão seus. Nunca! Não há espaço!
Como viver? Viver sem amor? Não é pior que viver sem a perspectiva de um amanhã? Os dois não acabam sendo um só?
Então me distraio com uma faca nas mãos, que sem querer escorrega e me corta um dos dedos. Essa dor é menor que uma topada na cadeira, que é maior que a dor da solidão. Não temo a solidão. Temo a falta dele... Dele que volta... Dele que não me quer.
Vou procurar a distração nas folhas dos livros que não me apetecem, na televisão nojenta, nas noites insólitas. Na verdade é tudo uma grande fuga e me dou conta disso quando sinto as lágrimas derramarem ao presenciar um abraço.
Não, não é fuga. Só as vezes.
Eu sou vulnerável. Fraqueza facilmente atingida, humilhada, ferida.
Esse ser inconstante, instável, imperfeito tem pureza notada na transparência e na sinceridade.
Enfim, já deu raiva. Pro vivo continuar vivo, por Shakespeare, o ser é uma megera que precisa ser domada.
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