sábado, fevereiro 17, 2007

Vivo

"Impuro, imperfeito, impermanente
Incerto, incompleto, inconstante
Instável, variável, defectivo
Eis aqui um vivo
Eis aqui
(...)
Não feito, não perfeito, não completo,
Não satisfeito nunca, não contente,
Não acabado, não definitivo:
Eis aqui um vivo
Eis me aqui"

Um vivo que vive a despertar aversão. O amor já não lhe quer, amizade é passageira, os carinhos apodrecidos .
Vivo? Morto-vivo. Parasita de sentimentos alheios que nunca serão seus. Nunca! Não há espaço!
Como viver? Viver sem amor? Não é pior que viver sem a perspectiva de um amanhã? Os dois não acabam sendo um só?
Então me distraio com uma faca nas mãos, que sem querer escorrega e me corta um dos dedos. Essa dor é menor que uma topada na cadeira, que é maior que a dor da solidão. Não temo a solidão. Temo a falta dele... Dele que volta... Dele que não me quer.
Vou procurar a distração nas folhas dos livros que não me apetecem, na televisão nojenta, nas noites insólitas. Na verdade é tudo uma grande fuga e me dou conta disso quando sinto as lágrimas derramarem ao presenciar um abraço.
Não, não é fuga. Só as vezes.
Eu sou vulnerável. Fraqueza facilmente atingida, humilhada, ferida.
Esse ser inconstante, instável, imperfeito tem pureza notada na transparência e na sinceridade.
Enfim, já deu raiva. Pro vivo continuar vivo, por Shakespeare, o ser é uma megera que precisa ser domada.

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